ago 24 2021

Por que os Bootcamps funcionam

Bootcamps conseguem treinar alunos em um tempo recorde se for comparado com o sistema tradicional. Como se opera essa magia?

Mathieu Le Roux
Mathieu Le Roux

9min read

Por que os Bootcamps funcionam
 
No início de 2016, como muitos executivos de empresas digitais, eu senti a necessidade de aprender a programar. Havia passado os quatro últimos anos lançando as operações da Deezer no Brasil e América Latina, e uma das grandes lições aprendidas nessa aventura era a dimensão (absolutamente estratégica) de ter o melhor produto para atrair e fidelizar usuários. Para participar deste debate, você tinha que entender as equipes técnicas, portanto, aprender a programar era uma necessidade. Não necessariamente para se tornar um desenvolvedor, mas para, pelo menos, ter uma conversa de bom nível e saber se “mudar o tamanho do logo” realmente leva três semanas ou três segundos… (na verdade, é melhor tirar o logo de vez...)

Minha primeira tentativa foram os cursos on-line, MOOC, etc… Sem muito sucesso, pois alguns cursos eram teóricos demais, e aqueles que tinham uma dimensão prática me deixavam empacado no primeiro bug gastando dias para descobrir um erro idiota…. Conclusão: acabei abandonando todos.

E graças ao grande Rémi Lheritier (gratidão eterna) eu descobri que existia uma outra alternativa: o bootcamp. Uma experiência em grupo, intensiva e mão na massa, de nove semanas, que prometia te tornar um desenvolvedor júnior mesmo nunca tendo programado antes.

Meu primeiro reflexo foi mandar mensagem no LinkedIn para o fundador da escola Le Wagon, a líder europeia desse segmento novo, que o Rémi havia me indicado. O fundador, Boris, me respondeu em menos de quatro horas e conversamos no dia seguinte. A conversa foi boa. Em menos de 10 minutos, ele havia me convencido a virar aluno e, em meia hora, a montar a franquia da empresa na América Latina :)

Mas foi quando participei do primeiro batch na região (o mítico batch #34!) que realmente entendi a proeza pedagógica de ensinar “o equivalente a dois anos de faculdade de programação” em nove semanas (opinião do nosso lendário professor Roberto Barros).


Bootcamps funcionam porque ser “mão na massa” é divertido.

“Brincar não é um jeito de aprender, é o único jeito de aprender.” 

A grade do bootcamp Le Wagon é organizada para ter 80% do tempo do aluno dedicados a “fazer coisas” no computador. Temos “aulas introdutórias” de manhã, das 9 às 10h30, que é o máximo de tempo que, provavelmente, alguém consegue se concentrar escutando outro alguém falando. E logo em seguida, vamos para os desafios. Obviamente, o primeiro bug vai revelar que você só prestou atenção em 60% da aula, o que já é ótimo, e cada bug serve para identificar qual parte do assunto você não sabia, não entendeu ou entendeu errado. O bug é o nosso melhor teacher. E vão ter muitos bugs para te ensinar, pode confiar. Até demais...


Bootcamps funcionam porque te ajudam a lidar com a síndrome do impostor.

“Para aprender rápido, aprenda sozinho; mas para aprender muito, aprenda em grupo”

Depois do 15º bug no primeiro desafio, é muito comum ver nossos alunos começarem a perder a auto estima… Tem raiva, tem introspecção, tem choro, tem diálogo interno com “aquele primo que seu avô sempre preferiu”... Tranquilo, estamos acostumados com isso. A força do bootcamp é que você vai perceber que todo mundo passa pelos mesmos perrengues. E isso dá um alívio incrível, porque faz parte do processo. A gente nunca falou que o bootcamp era fácil, pelo contrário, vivemos anunciando que o pessoal vai sofrer. Aprender é isso, é ser confrontado com uma dificuldade e se transformar para ultrapassá-la. Não tem como aprender a andar sem cair, sem chorar, sem passar vergonha, mas todo bebê acaba se virando, porque tem apoio. O Le Wagon é um monte de bebês chorando e caindo junto, até que todos se levantam e começam a andar… Alguns bebês conseguem de primeira, outros demoram, mas todos conseguem. E conseguimos ver na pandemia, com as aulas 100% on-line, que essa dimensão social da experiência de aprendizagem, com o buddy, a mesa virtual, o professor com um ombro amigo para acolher seus momentos de dúvida, funcionam igual à sala presencial. O segredo não é que off-line é melhor que on-line, o segredo é que enturmado é melhor que sozinho. Nossos bootcamps têm taxas de desistência baixíssimas (menos de 3% não completam o curso), e a razão disso é que existe uma solidariedade para te ajudar a pular os obstáculos.


Bootcamps funcionam porque não se apoiam em rankings nem organizam provas.

“Educação não é um sprint, é uma maratona… sem linha de chegada”

No Le Wagon, não existe ranking ou notas, nem provas. Nosso objetivo é que cada aluno(a) aprenda, no melhor ritmo possível, as coisas mais úteis para ele(a). Essa escolha é a garantia da solidariedade já mencionada, se aprende muito mais em um ambiente colaborativo do que competitivo. Mas ficamos vigiando internamente o desempenho de cada aluno, com o único objetivo de identificar aqueles presos na síndrome do impostor e bloqueados, para que um de nossos assistentes ou professor tente tirá-lo do buraco negro. No final do bootcamp, os grupos apresentam projetos finais desenvolvidos nas últimas semanas do bootcamp a partir do zero e nunca, na história do Le Wagon, fizemos uma seleção para mostrar somente os melhores. Todo mundo apresenta sua obra e às vezes rola bug, mas na vida real tem bugs o tempo todo, e o importante é como lidar com eles em uma situação estressante. E a coisa mais útil do demo day é que ele cria essa tensão para ninguém “fazer feio” no dia D...


Bootcamps funcionam porque habilidade não tem a ver com idade ou diploma.

“O diploma prova que você é bom nas respostas, mas o que vale na vida é ser bom nas perguntas”

No Le Wagon Brasil, já tivemos alunos de 18 a 74 anos. Já tivemos phDs, já tivemos pessoas que não fizeram faculdade. Já tivemos engenheiros, já tivemos porteiros. Já tivemos homem branco, já tivemos mulher preta.
O bom do seu código é que ele não olha seu Instagram para saber se pode ou não funcionar. Se você entendeu, ele funciona, caso contrário, não. E em um universo onde a maioria dos programadores do mercado são autodidatas, os recrutadores entenderam que não se pode julgar um bom desenvolvedor pela capa. O Le Wagon é aberto a todos, você só precisa comprovar motivação, dedicação e energia.


Bootcamps funcionam porque são experimentações rápidas.

“Tentativa e erro não é um jeito de melhorar, é o único jeito de melhorar!”

Os bootcamps têm uma grande vantagem sendo cursos de curta duração é que eles tem um tempo de feedback loop bem menor que o ensino tradicional. Faculdades que ensinam Ciências da Computação em 4 ou 5 anos precisam de 50 anos para iterar 10 vezes o currículo. No Le Wagon, já treinamos cerca de 700 batches em 6 anos… Por natureza, bootcamps são mais ágeis para adaptar o currículo e medir o impacto na qualidade dos projetos finais ou na empregabilidade do aluno.


Bootcamps funcionam porque dão luz à comunidade

“It takes a village to raise a dev”

O fato do bootcamp não ser (ainda) uma decisão tão "óbvia" quanto estudar em uma faculdade após o colégio faz com que os bootcamps atraiam uma população bem peculiar. Nossas turmas são realmente compostas de pessoas com a humildade de voltar a estudar, com a curiosidade de explorar um campo totalmente novo, com a coragem de enfrentar um assunto árduo. Todos são criativos mas padecem da frustração de não dominar as ferramentas certas para criar. E costumo explicar que o maior serviço que o Le Wagon fornece é ajudar essa turma a se juntar. Porque uma vez treinado, nada pode impedir um membro da #lewagang de voar.


Mathieu Le Roux
Cofundador da Le Wagon LatAm

NB1: Todas as citações foram colocadas entre aspas para fingir que alguém famoso as inventou, mas são do autor (que não é famoso).
NB2: a expressão #lewagang não obteve aval do time de marketing.